Trump Propõe a Extinção dos Fundos para as Artes e Humanidades

O Presidente dos EUA Lyndon Johnson assinando a Lei das Artes e Humanidades,
que criou o NEA e o NEH, em 29/9/1965. (reprodução da página do NEA) 
Adaptação da matéria original em inglês por Sopan Deb, publicada no The New York Times em 15 de março.

Um grande temor tornou-se realidade para muitos artistas, museus e organizações culturais em todo o país na manhã da última quinta-feira, quando o Presidente Trump, em seu primeiro Projeto de Orçamento, propôs a eliminação do National Endowment for the Arts e do National Endowment for the Humanities. O presidente Trump também propôs o desmantelamento da Empresa de Radiodifusão Pública (CPB), uma importante fonte de receitas para o Sistema de Radiodifusão Público (PBS), e estações de Rádio Pública Nacional (NPR), bem como o Centro Internacional Woodrow Wilson para Pesquisadores.
É a primeira vez que um presidente pede o fim dessas agências, criadas em 1965. O ato de sua criação, assinado pelo Presidente Lyndon Johnson, diz que qualquer "civilização avançada" deve valorizar plenamente as artes, as humanidades e a atividade cultural. Embora a soma dos orçamentos anuais de ambos os fundos - cerca de US$ 300 milhões - sejam uma fração minúscula do total de US $ 1,1 trilhão de gastos federais discricionários, os subsídios dessas agências têm sido profundamente valorizados em termos financeiros por décadas, constituindo honrarias cobiçadas por artistas, músicos, escritores e pesquisadores.
Nada mudará para os fundos ou outras agências imediatamente. É o Congresso que decide sobre o orçamento federal, não o Presidente, e os planos de orçamento da Casa Branca são em grande parte documentos políticos que transmitem as prioridades de um presidente. No entanto, nunca antes os Republicanos - que já propuseram eliminar os fundos antes - estiveram em condições tão favoráveis para fechar as agências, dado o controle das duas casas do Congresso e da Casa Branca e, agora, o novo plano orçamentário do Presidente. Os funcionários do governo Reagan, por exemplo, tentaram fazer cortes nos fundos, mas enfrentaram uma maioria Democrática na Câmara (bem como os amigos Reagan em Hollywood, favoráveis aos fundos). No presente, não está claro se os Republicanos favoráveis aos fundos irão lutar contra o Presidente do seu próprio partido. Trump apresentou sua proposta, apesar de sua própria filha Ivanka ser uma apoiadora das artes de longa data, e Karen Pence, esposa do vice-presidente Mike Pence, ter sido uma firme defensora da arteterapia por anos, sendo ela própria uma pintora.
Líderes dos fundos - que, como funcionários federais, não podem fazer lobby na Casa Branca ou no Congresso - expressaram desapontamento por ser o próprio Poder Executivo a propor sua extinção.
"Estamos muito tristes com esta proposta, pois o NEH tem feito contribuições significativas para o bem público", disse William D. Adams, presidente do Fundo de Humanidades, em um comunicado. Adams fez questão de apontar o apoio financeiro para o trabalho preservacionista no Kentucky, o estado de origem do líder da maioria Republicana no Senado, Mitch McConnell, e para o trabalho teatral de veteranos das guerras no Iraque e no Afeganistão - uma clara abertura aos Republicanos para lembrar que as doações não favorecem apenas as elites liberais.
Em uma reunião na quarta-feira, a presidente do NEA, Jane Chu, deu a notícia à equipe e disse que seguiriam trabalhando como de costume, durante o processo de elaboração do orçamento no Congresso. Chu disse que convocou a reunião porque não queria que o pessoal soubesse da proposta através da imprensa. Os funcionários reagiram de forma profissional, com uma mistura de tristeza e surpresa, mas nenhuma raiva visível, segundo um deles. Instruções foram dadas ao pessoal para lidar com telefonemas de destinatários de doações, preocupados com o seu dinheiro e o destino das agências.
Grupos artísticos já iniciaram uma furiosa campanha de lobby para pressionar os Republicanos no Congresso a fim de salvar os fundos. A Associação de Diretores de Museus de Arte emitiu uma das primeiras declarações denunciando o plano do Presidente e exortando o Congresso a salvar as agências. Brian Ferriso, presidente da Associação, afirmou: "Estou esperançoso que o Congresso vai pensar melhor e dizer: - Ei, espere um segundo. Precisamos desses elementos culturais para nossa sociedade".
Alexandra Nicholis Coon, Diretora-Executiva do Museu Massillon em Ohio, disse que sua equipe conta com o subsídio do NEH para um projeto de gravação de histórias, digitalização de cartas e registro fotográfico dos uniformes de soldados americanos que morreram na Primeira Guerra Mundial. Ela classificou a oposição de Trump aos fundos como "míope". "É desanimador saber que nosso presidente e a administração valorizam tão pouco a memória da comunidade e a preservação da história americana", disse Coon, cujo museu está em Stark County, onde Trump derrotou Hillary Clinton nas eleições de novembro.
Enquanto alguns Republicanos têm expressado apoio às agências, o orçamento para as artes em particular tem sido um alvo dos conservadores por décadas. Depois de batalhas políticas sobre os subsídios no final dos anos 1980 e 1990, ambas agências criaram programas e concederam subsídios a mais artistas e acadêmicos em regiões politicamente conservadoras do país. No entanto, o dinheiro seguiu fluindo fortemente para estados e cidades de tendência liberal: os grupos artísticos de Nova York são os maiores destinatários do subsídio federal às artes. Alguns defensores do subsídio às artes (que distribui muito menos dinheiro em termos percentuais do que muitos outros governos em todo o mundo) dizem que sua importância é menor em termos financeiros do que pela mensagem que transmite sobre a importância da cultura para os EUA.
O PEN America, uma associação de profissionais na área literária, tem distribuído uma petição, num esforço para salvar as agências, que já acumulou 200 mil assinaturas, incluindo nomes proeminentes como Salman Rushdie e Margaret Atwood. Como disse Teresa Eyring, do Theatre Communications Group, chegou a hora de "modo agir". "Este é o começo de um longo caminho", disse Eyring, Diretora-Executiva do grupo, que representa mais de 500 teatros sem fins lucrativos em todo o país. "Agora os defensores e as pessoas da comunidade artística se comunicarão com seus legisladores e realmente tentarão deixar claro o valor desse investimento, relativamente modesto, mas muito importante em nosso país através das artes".

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