Renda importa mais que tempo livre para frequentar atividades culturais
Damos sequência à análise dos cruzamentos de dados da nossa pequisa de consumo cultural, nesta semana abordando o fator...
Trabalho
Os índices de frequentadores assíduos entre pessoas que declararam ter atividade remunerada (769 respondentes, ou 63% da amostra) são sempre superiores aos que não trabalham, sugerindo que dispor de tempo livre tem menos relevância do que ter recursos para frequentar atividades culturais – não apenas para ingressos, mas para transporte e outros custos associados. Em termos proporcionais, a diferença é mais acentuada entre os frequentadores de circo, onde o percentual entre trabalhadores é quase quatro vezes maior do que entre não-trabalhadores; de concertos (3,4 vezes maior); e de dança (2 vezes). Contudo, como os percentuais gerais de assíduos nessas atividades são pequenos (4,4% para circo, 3,4% para concertos e 6,6% para dança), tais diferenças ficam dentro da margem de erro. Já entre frequentadores de espetáculos de música popular, o fator trabalho influencia pouco: são 37,7% entre trabalhadores, contra 33,9% de não trabalhadores. A exceção à regra fica por conta das exposições de artes, onde frequentadores assíduos são mais comuns entre não-trabalhadores (12,6%) do que entre trabalhadores (11,7%), porém a diferença não ultrapassa a margem de erro.

Servidores públicos frequentam mais
Os trabalhadores foram classificados conforme o tipo de vínculo: 357 empregados do setor privado (29,3%), 260 autônomos ou profissionais liberais (21,3%), 84 servidores públicos (6,9%), 32 empresários (2,6%) e 26 bolsistas ou estagiários (2,1%) . Observou-se que os frequentadores assíduos são significativamente mais frequentes entre empregados do setor público do que outras categorias, para a grande maioria das atividades culturais. Em muitas delas, a percentagem de assíduos entre os servidores públicos chega ao dobro da média entre os trabalhadores, como nos concertos (11,9%, contra média de 4,6%), dança ou balé, circo e exposições. As exceções ficam com o cinema, em que os servidores públicos são superados pelos bolsistas ou estagiários (54,8% contra 65,4%), atividade em que predomina o público mais jovem, como vimos anteriormente; e o teatro, onde 25% dos empresários são assíduos, contra 19% dos servidores públicos. Chama a atenção ainda o fato de não se encontrarem, entre os 26 entrevistados que se declararam bolsistas ou estagiários, nenhum que tenha frequentado concerto ou ópera, dança ou balê e circo nos últimos 30 dias. Tampouco foi encontrado frequentador assíduo a concerto ou ópera entre os 32 empresários entrevistados.


Entre as 451 pessoas que declararam não ter atividade remunerada (37% da amostra), cerca de 1/3 são estudantes, enquanto outro 1/3 são aposentados. O restante dividem-se entre afazeres domésticos e os que estão desempregados ou procurando emprego. As baixas frequências à maioria das atividades reveladas pelos idosos foram confirmadas pelos que se declaram aposentados, sempre com frequências significativamente mais baixas que a média dos entrevistados. Mesmo no cinema, bailes e shows musicais, atividades que apresentam os menores índices de exclusão, não iremos encontrar muitos aposentados entre os frequentadores assíduos, reforçando a tendência a considerar outros fatores como preponderantes sobre a disponibilidade de tempo livre na decisão de frequentar atividades culturais. Somente 12,9% dos aposentados frequentaram cinema nos últimos 30 dias, por exemplo, percentagem 5 vezes menor do que os 64,6% do total dos entrevistados.

A pesquisa Usos do Tempo Livre e Práticas Culturais dos Porto-Alegrenses entrevistou, entre novembro e dezembro de 2014, 1220 porto-alegrenses de ambos os sexos, com idade a partir de 14 anos. As entrevistas foram feitas a domicílio, sendo a amostra estratificada segundo idade, sexo e residência nas 17 regiões da cidade. A margem de erro calculada é de 2,8% para mais ou para menos. Os dados da pesquisa estão disponíveis aqui.
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