Como as principais cidades do mundo financiam a cultura?

http://www.worldcitiescultureforum.com/news/how-do-world-cities-finance-culture

Estudo inédito compara gastos públicos e privados com cultura em 16 metrópoles mundiais



Você sabia que US$ 3,3 bilhões de dinheiro público são destinados à cultura em Paris anualmente? Moscou e Londres não ficam muito atrás, recebendo US$ 2,4 e US$ 1,6 bilhões, respectivamente. No entanto, apesar da grande quantidade de dinheiro público e privado gastos em cultura nessas importantes cidades (e em muitas outras), o conhecimento sobre suas dimensões e impacto ainda é bastante limitado.
 
O relatório World Cities Culture Finance, [link para o texto original, disponível somente em inglês] publicado recentemente, é o primeiro estudo comparativo global sobre o volume  do gasto em cultura em metrópoles do mundo, quem gasta e para onde o vai o dinheiro. Seu propósito é ajudar os tomadores de decisões a estarem conscientes de um amplo conjunto de formas de apoio à cultura, dando-lhes o conhecimento necessário para entender e navegar num cenário de financiamento cada vez mais complexo. O relatório resulta de um ano e meio de pesquisa, realizada pela BOP, consultoria britânica especializada em cultura e economia criativa, por demanda do Fórum Cultural das Cidades Mundiais (WCCF-World Cities Culture Forum) 

 Alguns destaques:

  • O modelo mais difundido, comum a todas as cidades, é o de financiar um portfólio relativamente pequeno de instituições culturais chave.
  • Mais de 60% de todo o financiamento público direto da cultura é fornecido pelos governos municipais ou locais.
  • Nas cidades dos EUA, o financiamento da cultura é predominantemente por doações privadas. Fora deste país, com exceção de Tóquio, nenhuma outra cidade tem mais de 19% de fontes privadas.
  • As cidades chinesas estão investindo cada vez mais em formas culturais mais comerciais e inovadoras, especialmente nas indústrias criativas. Nelas, predomina o apoio público.
  • Os indivíduos dominam a doação privada à cultura nos EUA e no Reino Unido. As empresas dominam as doações privadas na Ásia.
  • O financiamento público indireto, incluindo deduções e incentivos fiscais, vem crescendo em importância, mas a maioria das cidades necessita aperfeiçoar esses mecanismos e avaliar sua eficácia.
  • Grandes proporções dos orçamentos culturais nacionais são destinado às capitais, por elas sediarem os maiores "ativos imobilizados", que criam um legado de receita e capital. O Reino Unido é um dos poucos países nos quais uma única cidade do país recebe a maior parte do gasto cultural.
Além de uma análise comparativa introdutória, o relatório inclui perfis detalhados do financiamento cultural em dezesseis cidades-membros do Fórum Cultural das Cidades Mundiais (World Cities Culture Fórum): Amsterdã, Bruxelas, Istambul, Londres, Los Angeles, Moscou, Nova York, Paris, San Francisco, Seul, Xangai, Shenzhen , Estocolmo, Sydney, Tóquio e Toronto. (Outras dezesseis cidades-membros ficaram de fora do estudo, entre elas o Rio de Janeiro, única cidade brasileira que integra o Fórum.) 
Perfil das cidades: recursos públicos x privados
(clique na imagem para ampliar)

Novos modelos de financiamento

O relatório observa uma crescente experimentação com os modelos de financiamento. Em Estocolmo, Sydney e Seul, plataformas de crowdfunding estão sendo usadas como ponto de partida, para o recebimento de financiamento público de forma complementar, com algumas cidades tornando tais doações dedutíveis dos impostos. Em Amsterdam, examina-se a criação de um "modelo cooperativo" de apoio a músicos, onde um grande grupo desses profissionais se cotiza para investir em determinado espaço, realizando ali vários concertos individuais por ano, para associados pagantes. O relatório analisa ainda os modelos de gestão para a distribuição do fomento público, serviço parcialmente terceirizado em Istambul, para uma empresa; e em Tóquio, para uma organização sem fins lucrativos.

Doação privada

Como o nível de financiamento público à cultura está em declínio em cidades europeias (como Londres e Amsterdã), e mais ainda em Seul ou Sydney, os formuladores de políticas tendem a apoiar cada vez mais organizações que obtém receita própria ou arrecadem doações privadas. O programa Catalyst, do Arts Council England é destacado por oferecer apoio a organizações culturais para aumentar sua capacidade de angariar fundos. Uma avaliação recente mostrou que o programa produziu resultados em 88% das organizações artísticas envolvidas, que conseguiram manter ou aumentar o volume de recursos angariados. No entanto, o relatório observa que esta abordagem não é generalizada e que, em muitas cidades, incentivos para aumentar os níveis de doação privada "não parecem estar dando frutos no momento", como em Seul, por exemplo, mesmo que as doações individuais para o Arts Council sejam 100% dedutíveis; nos Países Baixos; ou na Suécia, onde doações privadas são incomuns. Tais descobertas sugerem que provavelmente os hábitos relacionados a doações individuais levam tempo para mudar e podem exigir estratégias diferentes ou complementares daquelas que se concentram exclusivamente no sistema tributário.

Reprodução/adaptação/tradução pelo Observatório da Cultura a partir dos textos na página do WCCF e no Informativo da Arts Professional (texto de Christy Romer)
 

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