Missão: fazer diferença. O caso do Museu de Santa Cruz, CA (EUA)

O blog apresenta, uma vez mais, conteúdo traduzido do site inglês Arts Professional, especialmente para nossos leitores. O texto  original é de Sara Lock, a respeito de uma conferência de Nina Simon, autora do livro recentemente lançado The Art of Relevance. (alguns trechos do livro podem ser lidos on-line)

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Como podem as organizações artísticas certificar-se de que são importantes para seu público e seus patrocinadores?

Em 2011, Nina Simon tornou-se Diretora Executiva do Santa Cruz Museum of Art & History (MAH) e embarcou em uma "missão para fazer diferença". A organização estava à beira da extinção por desimportância. Não tinha dinheiro e falava-se em fechar suas portas.
No atual contexto de financiamento, este cenário pode soar bem familiar, mas chamou a atenção de Nina para um problema ainda maior. A razão pela qual não havia dinheiro era que não havia um número suficiente de pessoas na comunidade a quem o MAH realmente importasse.
Se nossas organizações e nosso trabalho devem fazer diferença para as pessoas a ponto de atingirmos a sustentabilidade, então temos de compreender o nosso entorno. Embarcar em uma "missão para fazer diferença" salvou o MAH da extinção. A história da transformação do museu na instituição próspera que é hoje pode servir tanto como uma inspiração quanto como um alerta. É um lembrete do que pode acontecer quando perdemos de vista o que é importante para as nossas comunidades e nossos apoiadores.
No setor cultural, temos a felicidade de sermos regularmente lembrados de que somos importantes para as pessoas. Cada ingresso comprado, cada visita feita e cada crítica favorável são um endosso ao nosso trabalho. Mas e aquelas pessoas a quem nós não ainda não importamos?

Assíduos x Ausentes

As barreiras entre fiéis seguidores de nossa organização e pessoas para quem ela ainda não importa é lindamente ilustrada na definição de Nina para a relevância como uma chave que traduz significados. Ela não é o próprio significado, mas um ponto de conexão que abre portas para que as pessoas possam ter uma experiência poderosa.
Nossos frequentadores assíduos, aqueles que amam as artes, tem as chaves de nossas portas. A chave gira na fechadura e lhes permite entrar em nossas organizações sem dificuldades. Eles conhecem nosso trabalho, estão interessados ​​no que fazemos e sabem como se programar, por isso é fácil para eles participarem.
Porém, do lado de fora de nossas portas, há muitas outras pessoas que sequer vêem esas portas. Eles não possuem uma chave ou qualquer forma de imaginar que aquilo que está aqui dentro pode ser de algum valor para eles. Se você ama as artes e tem essas chaves, é fácil esquecer que é necessário tê-las para entrar. Mas se você não tem isso, é impossível atravessar aquelas portas.
A definição de relevância de Nina provém de dois critérios que, segundo sugerem os pesquisadores linguísticos Deirdre Wilson e Dan Sperber, tornam algo relevante: efeito cognitivo positivo e esforço. Para que algo seja relevante para você, esse algo deve fornecer informações significativas, as quais você pode acessar com mínimo esforço.
Se nossas organizações e nosso trabalho devem fazer diferença para as pessoas a ponto de atingirmos a sustentabilidade, então temos de compreender as pessoas que estão de fora. Precisamos saber o que elas valorizam, o que é significativo para eles e o que podemos mudar na forma como fazemos as coisas para proporcionar-lhes uma experiência sem esforço.

Mudanças na estratégia e propósito

Nos últimos cinco anos, o MAH viu quadruplicar o número de visitantes e mais do que duplicou o seu quadro de pessoal e orçamento. Nina atribui esse progresso às mudanças de estratégia e de propósito. Ele começou a fazer do museu um espaço de encontro social, e a olhar para a arte e a história em busca de ideias e narrativas para serem encontradas, desafiadas e usadas para conectar comunidades. Ela focou seu trabalho na comunidade e naquilo que era importante para a população local, começando a articular o impacto que a instituição pretendia obter através da cultura.
As exposições de arte e a programação que o MAH vinha fazendo eram importantes para um pequeno grupo, mas não tinham importância suficiente para um número suficiente de pessoas. A ideia de usar a criatividade e cultura para construir uma comunidade mais forte e conectada conseguiu motivar a comunidade, que foi se envolvendo, participando e acabou apoiando o museu, inclusive financeiramente.
Para acolher os "excluídos", o MAH também mudou sua programação e abriu novas portas, que eram relevantes e visíveis para eles. Foram organizados eventos em bares e ambientes familiares, que atraíam as pessoas e diminuiam o esforço percebido em participar.

Iniciando a sua própria missão para fazer diferença

A história do MAH não é um modelo para alcançar a relevância, mas existem cinco passos fundamentais que podem ser tomadas a partir de sua trajetória:
  1. Certifique-se a sua organização tem clareza sobre com quem ela se preocupa mais - quem são os excluídos a quem você quer realmente atingir?
  2. Torne-se um convidado nessa comunidade - ingressando como aprendiz e explorador, não para vender algo, mas por um interesse genuíno naquilo que importa às pessoas.
  3. Faça perguntas honestos à sua organização. O que não está funcionando? O que precisamos mudar?
  4. Esteja preparado para reformular sua programação e abrir novas portas, que sejam relevantes, visíveis e atraentes para os excluídos com os quais você se preocupa.
  5. Prepare-se para ter diálogos difíceis com frequentadores assíduos, que podem se sentir ameaçados ou simplesmente não concordar com as mudanças.
Algumas dessas etapas podem ser desafiadoras. Ao assumir seu papel de liderança na comunidade, pode surgir a impressão de se está abrindo mão do controle artístico. As mudanças podem acarretar o risco de afastar os frequentadores habituais. Mas se a alternativa é acabar onde começou o MAH, à beira da extinção por não fazer diferença, então talvez esse seja um risco que vale a pena correr.

Porto Alegre em Debate: políticas culturais em pauta na TV Câmara

Em setembro, estivemos na TV Câmara de Porto Alegre, participando do programa Porto Alegre em Debate, que destacou a cultura na capital gaúcha, especialmente em relação às políticas públicas. No programa, os convidados analisaram a situação do setor e falaram sobre os desafios diante da escassez de recursos. Participaram o presidente da Câmara Rio-grandense do Livro, Marco Cena, o gestor e produtor cultural, Hamilton Braga, e o coordenador do curso de Jornalismo da Ulbra, Deivison de Campos, além do coordenador do Observatório da Cultura, Álvaro Santi.

O video pode ser conferido abaixo. (em duas partes)


555 - Os desafios para o desenvolvimento da cultura em Porto Alegre PARTE 01 from TV Câmara Porto Alegre on Vimeo.


555 - Os desafios para o desenvolvimento da cultura em Porto Alegre PARTE 02 from TV Câmara Porto Alegre on Vimeo.

Há dez anos, Porto Alegre debatia o financiamento público à cultura


Seminário aconteceu no Auditório do CCCEV.

Em 2005, inscrevi o Fumproarte (que eu coordenava, desde o ano anterior) no Prêmio Gestão Pública e Cidadania, iniciativa da Fundação Ford e Fundação Getúlio Vargas, com apoio do BNDEs. O prêmio destacava experiências inovadoras no país, que envolviam a participação da sociedade civil, tinham impacto positivo na qualidade de vida e potencial para serem replicadas em outros locais.

O Fumproarte foi classificado entre os 20 finalistas dessa que viria a ser a última edição do prêmio (entre os quais, somente um outro projetos era do setor cultural). Os relatórios da comissão avaliadora sobre cada uma das iniciativas finalistas foram reunidos no livro 20 Experiências de Gestão Pública e Cidadania: Ciclo de Premiação 2005.


"Mecanismos de financiamento à cultura no cenário internacional"
Luiz C. Prestes Filho, Leandro Valiati e Álvaro Santi
Com o prêmio recebido, no valor de R$ 6 mil, organizamos o Seminário Mecenas na República, para discutir o financiamento público à cultura nos três níveis de governo. Registrava-se, naquele ano, a passagem dos 20 anos da Lei Sarney, primeiro mecanismo abrangente de incentivo fiscal à cultura no país.

O Seminário, que contou com o apoio da Fundacine-RS (especialmente na pessoa de seu presidente, Cícero Aragon, e da Débora Peters), aconteceu nos dias 24 e 25 de outubro de 2006, com produção do Daniel Bender. Após, foi criado um grupo de trabalho, com representantes da SMC e das entidades presentes (Fundacine, Fórum Permanente de Música, Federação Gaúcha de Capoeira, SATED), a fim de discutir a reformulação da Lei Complementar 283/1991, que dispunha sobre o incentivo fiscal à cultura em Porto Alegre, mas nunca foi regulamentada. Este trabalho resultou em um anteprojeto de nova lei, que chegou a ser colocado em consulta pública mas até hoje não foi enviado à Câmara.

Aos interessados, iremos disponibilizar aqui, em breve, conteúdos do seminário registrados em CD e posteriormente transcritos, inéditos até hoje.

"Financiamento federal à cultura". Adriana Moreira, Cristiane
Olivieri, Fernando Schuler e Cícero Aragon
"10 anos da LIC-RS e perspectivas para o FAC-RS".
Paulo Fernandez, Guilherme Castro, Victor Hugo
e Flora Leães

"12 anos do Fumproarte: um balanço". Marley Danckwardt,
André Venzon, Álvaro Santi, Jaime Lerner e Ana Luiza Azevedo.

"Diretrizes para uma Lei de Incentivo à Cultura de Porto Alegre"
Beto Rodrigues, Manuela Dávila, Ana Luisa Fagundes e Flora Leães






VI Seminário de Observatórios na Unisinos

Com o tema "Democracia, Políticas Públicas e Informação", realizou-se na última terça-feira o VI Seminário de Observatórios da Região Metropolitana, no campus da Unisinos, em São Leopoldo. O evento contou com apresentações de trabalhos selecionados, uma roda de conversa entre os dez observatórios presentes, e encerrou-se com a conferência do Prof. Dr. Rudá Ricci. Sociólogo e Cientista Político, o Professor Ricci desafiou os observatórios a se esforçarem para que seus produtos sejam apropriados pela sociedade, em prol da transformação da realidade. (Leia aqui a entrevista concedida por ele.)
Conferência de encerramento do Seminário está disponível no YouTube

Pelo segundo ano consecutivo, o Observatório da Cultura teve a honra de participar na organização do evento, que é realizado mais uma vez pelo Instituto Humanitas da Unisinos (IHU).

Mais informações na página do evento, incluindo links para a gravação em vídeo das sessões, lista de trabalhos apresentados e a apresentação utilizada pelo conferencista. Cadernos das edições anteriores também podem ser baixados/lidos na página do Observasinos, anfitrião do Seminário.

Há cinco anos, Porto Alegre recebia o Seminário Cultura e Desenvolvimento Local

Seminário aconteceu na Sala Fahrion da Reitoria da UFRGS.
De 25 a 27 de outubro de 2006, o Observatório da Cultura realizava, em parceria com o Departamento de Difusão Cultural (Prorext) da UFRGS, o Seminário Internacional Cultura e Desenvolvimento Local. Ao longo desses dias, a cidade recebeu palestrantes da Argentina, Chile, Espanha e de vários estados brasileiros, para relatar experiência e debater as relações entre as políticas culturais e o desenvolvimento, abordando aspectos como a formação e as condições de trabalho dos artistas, o patrimônio cultural, economia criativa, sistemas de informação e os direitos culturais.

O evento integrou o projeto Observatório da Cultura de Porto Alegre: Informação e Capacitação para o Desenvolvimento, financiado pelo Programa Barcelona Solidària, da Prefeitura de Barcelona e Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento - AECID, para cidades integrantes da Rede Cidades e Governos Locais Unidos - CGLU e signatárias da Agenda 21 da Cultura. Os recursos captados por nós para o projeto também viabilizaram um curso de extensão, à distância, ministrado pela Unisinos, que capacitou 53 gestores culturais da Região Metropolitana de Porto Alegre.

As palestras gravas em video, bem como textos dos palestrantes, seguem disponíveis na plataforma virtual criada pela UFRGS.