Um empresário norte-americano, encarregado de arrecadar fundos para um novo centro cultural, solicitou ao escritor Randy Cohen que o auxiliasse elaborando uma lista de "10 razões para apoiar artes", que fosse atraente para líderes de governo e empresas e - importante! - que coubesse em uma única página, pois afinal esses caras não tem muito tempo para leituras. O resultado foi publicado em abril de 2011 (e posteriormente revisado pelo autor), no site da organização Americans for the Arts, da qual Cohen é vice-presidente. Pensamos que poderia ser útil para leitores que se defrontam com situações semelhantes, por isso o traduzimos. Além disso, ao embasar parte de seus argumentos em dados (ainda que restritos os EUA), o texto nos lembra da importância de dispormos desse tipo de dados para o contexto brasileiro, uma das motivações principais para a existência do Observatório da Cultura.
1. Verdadeira prosperidade. As artes são fundamentais para nossa humanidade. Elas nos enobrecem e inspiram – promovendo criatividade, bondade e beleza. Elas nos auxiliam a expressar nossos valores, construir pontes entre culturas e nos unir independentemente da etnia, religião ou idade. Quando os tempos são difíceis, as artes são um bálsamo para a dor.
2. Melhor desempenho acadêmico. Alunos com uma educação rica em artes têm mehor desempenho em testes escolares, menores taxas de desistência e uma postura mais atuante em relação a serviços comunitários - benefícios estes colhidos independentemente do seu status sócio-econômico. Nos testes SAT (espécie de ENEM dos EUA), estudantes com quatro anos de ensino de artes ou música no ensino médio obtiveram em média 100 pontos acima dos que tiveram estes conteúdos por um semestre ou menos.
3. As artes são uma indústria. Organizações artísticas são empresas sérias, empregadoras e consumidoras. Organizações artísticas sem fins lucrativos movimentam anualmente cerca de US$ 135 bilhões, sustentando 4,1 milhões de empregos e recolhendo US$ 22,3 bilhões em impostos. O investimento em artes gera empregos, receitas fiscais e faz avançar a nossa economia baseada na criatividade.
4. As artes beneficiam o comércio local. Um típico espectador ou frequentador de eventos artísticos gasta US$ 24,60 por evento (além do custo do ingresso), em itens tais como refeições, estacionamento, lojas ou babás. O público proveniente de outras cidades gasta quase o dobro do público local (US$ 39,96, em comparação com US$ 17,42), recursos valiosos para as empresas locais e a comunidade.
5. As artes são a pedra angular do turismo. Viajantes “culturais” são turistas ideais – hospedam-se por mais tempo e gastam mais. O Departamento de Comércio dos EUA relata que o percentual de viajantes internacionais que incluem visitas a museus em seus roteiros tem crescido anualmente de 2003 a 2010 (de 17 para 24%), enquanto os que assistem a espetáculos de música ou teatro aumentou de 13 para 17%.
6. As artes são uma indústria de exportação. As exportações dos EUA em bens artísticos (de filmes a quadros, passando por artigos de joalheria), alcançaram US$ 64 bilhões em 2010. Como as importações deste ramo foram de US$ 23 bilhões, as artes proporcionaram ao país um superávit de US$ 41 bilhões no comércio exterior.
7. Formando mão-de-obra para o século 21. Relatório da The Conference Board mostra que a criatividade está entre as cinco principais capacidades procuradas pelos empregadores - 72% dos líderes empresariais dizem que a criatividade é muito valorizada no momento da contratação. O maior indicador de criatividade? Um diploma universitário em Artes. O relatório Ready to Innovate conclui: "... As Artes - música, escrita criativa, desenho, dança - fornecem habilidades buscadas pelos empregadores do terceiro milênio".
8. Saúde. Quase metade das instituições de saúde dos EUA oferece programação artística para pacientes, familiares ou mesmo para os empregados. 78% investem nesses programas por causa de seus benefícios para a saúde dos pacientes – menor tempo de internação, melhor gestão de dor e menor quantidade de medicamentos.
9. Comunidades mais fortes. Pesquisadores da Universidade de Pensilvânia demonstraram que uma alta concentração de artes em uma cidade leva a um maior engajamento cívico, maior coesão social, maior bem-estar das crianças e menores índices de pobreza. Um comunidade artística vibrante assegura que a formação dos jovens não seja deixada exclusivamente ao sabor da cultura pop e do mercado de tablóides.
10. Indústrias criativas. As chamadas indústrias criativas compreendem desde museus ou orquestras sem fins lucrativos até empresas dos setores do audiovisual, arquitetura ou publicidade. Um estudo da Dun & Bradstreet informa que os EUA contam com 904.581 empresas neste setor, as quais empregam 3,33 milhões de pessoas - representando 4,25% de todas as empresas e 2,15 % da força de trabalho, respectivamente.
O escritor e humorista Randy Cohen destacou-se como roteirista de TV de programas como o de David Letterman (talk show em cujo formato se inspirou o brasileiro “Jô 11 e meia”). Vencedor de 4 prêmios Emmy, também escreve para revistas e jornais norte-americanos, com destaque para a coluna que manteve no The New York Times Magazine, entre 1999 e 2011.
Acesse o texto original.
"Não se pode conceber a possibilidade de administrar um país sem dados estatísticos, pois que, sem eles, tudo é feito arbitrariamente, sem fundamento, sem critério e com grave prejuízo para o povo, que é a vítima dos atos levianos dos que governam sem doutrina e dos que administram por vagas inspirações, sem dados positivos em relação aos diversos ramos do serviço público" [Júlio de Castilhos, 1889]
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