Desequilíbrio na distribuição regional dos recursos para a cultura é crônico e crescente, aponta relatório inglês

Pode até não servir de consolo, mas é fato que a centralização dos investimentos em cultura nas capitais e grandes cidades não é exclusividade da Lei Rouanet ou mesmo dos investimentos públicos brasileiros em geral. É o que demonstra o relatório recentemente publicado pelo Institute of Cultural Capital, com sede em Liverpool (UK), intitulado Rebalancing Our Cultural Capital: A contribution to the debate on national policy for the arts and culture in England (Reequlilibrando nosso capital cultural: uma contribuição ao debate sobre a política nacional para as artes e cultura na Inglaterra), cujo resumo traduzimos a seguir: 
À esquerda: distribuição da população inglesa entre a capital e o resto do país. A direita: a distribuição dos recursos públicos para cultura nos últimos 2 anos

15 % da população de Inglaterra vive em Londres . Em 2012/13, o Arts Council England (ACE, o Conselho de Artes da Inglaterra) distribuiu o montante de £ 320 milhões (R$ 1 bilhão 257 milhões) em dinheiro dos contribuintes para as artes, dos quais aproximadamente £ 20 (R$ 78,56) per capita foram alocados em Londres, contra a £ 3,60 (R$ 14,14) no resto da Inglaterra.No mesmo ano, o Departamento de Cultura, Mídia e Esportes (DCMS, que desempenha as funções de Ministério de Cultura no Reino Unido) distribuiu  £ 450 milhões (R$ 1 bilhão 767 milhões), diretamente para grandes instituições culturais "nacionais", dos quais £ 49 (R$ 192,45) per capita em ​​Londres, contra £ 1 (R$ 3,93) per capita no resto do país.No total, em 2012-13, contribuintes de toda a Inglaterra investiram em Londres £ 69 (R$ 271,03) contra £ 4,60 (R$ 18,07) per capita no resto do país - uma proporção de 15 para 1.O padrão concentrador do financiamento público a favor da Capital existe desde a fundação do Arts Council, e há mesmo uma tendência de aumento desse desequilíbrio ao longo dos últimos 30 anos, pelo menos. Durante este período, sucessivos governos e membros do Arts Council tem reconhecido o desequilíbrio, argumentando porém que sua correção dependeria de uma significativa injeção de novos recursos.
Ocorre que, desde 1995, o Arts Council England é o responsável pela gestão - e distribuição - de £ 3,5 bilhões da Loteria Nacional, em fundos "novos e adicionais" para boas causas nas artes. Este relatório argumenta que os fundos da Loteria Nacional - desembolsados majoritariamente pelos menos favorecidos na sociedade - implicam um novo compromisso ético para o Arts Council, sugerindo a necessidade de, no mínimo, uma distribuição geográfica equitativa, proporcional ao tamanho da população.Na verdade, ao longo dos 18 anos de existência da Loteria, a distribuição feita pelo Arts Council dos recursos da Loteria injetou em Londres £ 165 (R$ 648,10) per capita, contra £ 47 (R$ 184,61) per capita no resto do país.Os dados de 2013, somando-se os recursos de impostos e dos apostadores na Loteria, mostram uma distribuição para Londres de £ 86 (R$ 337,80) per capita, contra £ 8 (R$ 31,42) per capita no resto da Inglaterra - uma proporção de 11 para 1.Uma maneira de iniciar a reparação dessa injustiça seria alocar em Londres sua justa parcela de recursos provenientes da Loteria, por um período inicial de cinco anos, sem afetar o núcleo do financiamento público das principais organizações artísticas e instituições culturais em Londres. Nessa hipótese, os fundos disponíveis para a Capital teriam uma redução total de pouco mais de 10%. A produção cultural fora de Londres poderia então beneficiar-se, ao longo dos cinco anos, de um total de £ 600 m (R$ 2 bilhões 356 milhões), valor ainda inferior ao gasto pela Loteria Nacional na construção do estádio Millennium Dome.

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