Com um enorme atraso, posto aqui mais uma reflexão sobre este evento que tive o privilégio de presenciar, em julho passado, em Barcelona.
No painel intitulado "Cultura e Desenvolvimento: perspectivas para os papéis da diversidade cultural e dos direitos culturais no desenvolvimento sustentável", estava um dos conferencistas mais aguardados, o indiano Yudhishthir Raj Isar.
Sua contribuição foi no sentido de uma reflexão crítica ao uso da diversidade cultural - tão em voga nos discursos sobre política cultural, especialmente após a Convenção da UNESCO sobre o tema, aprovada em 2005 - como valor último a embasar as políticas culturais mundo afora. Segundo ele, culturas não são espécies, no sentido que as ciências naturais utilizam este termo, "agrupamentos de populações naturais intercruzantes, reprodutivamente isolados de outros grupos com as mesmas características" (conforme a Wikipedia). Entre diferentes culturas, tal isolamento é cada vez mais raro num mundo globalizado, o que torna problemático o transplante do conceito de diversidade, do pensamento ecológico para o campo da cultura.
O livre-arbítrio distingue o mundo cultural do natural. Por este motivo, mesmo condenado biologicamente à espécie humana, todo indivíduo tem (ou deveria ter) o direito de abandonar, no todo ou em parte, a sua cultura originária e assumir outra, se assim o desejar. A cultura simplesmente fornece aos indivíduos as ferramentas para continuamente se reinventarem criativamente, na vida em sociedade, e não apenas reproduzirem o que aprenderam.
Cabe refletir, sobretudo, se as culturas que não admitem esta liberdade merecem ser "preservadas", em nome da "diversidade"?
Isar é professor de Estudos de Política Cultural na The American University of Paris e pesquisador atuante na área. Entre suas obras, destaca-se a organização, em conjunto com Helmuth K. Anheier, dos cinco volumes da série "Cultures and Globalization". Também escreveu, para a Organização dos Estados Americanos (OEA), em 2003, um "Estudio de factibilidad del Observatorio Interamericano de Políticas Culturales", que infelizmente não saiu do papel.
"Não se pode conceber a possibilidade de administrar um país sem dados estatísticos, pois que, sem eles, tudo é feito arbitrariamente, sem fundamento, sem critério e com grave prejuízo para o povo, que é a vítima dos atos levianos dos que governam sem doutrina e dos que administram por vagas inspirações, sem dados positivos em relação aos diversos ramos do serviço público" [Júlio de Castilhos, 1889]
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