A acessibilidade nos museus, nos EUA e no Brasil (Encontro Públicos da Cultura, 7)


A próxima conferência do Encontro Públicos da Cultura, no dia 13 de novembro, tratou de um tema muito interessante embora pouco abordado. Carrie McGee apresentou o Programa de Acessibilidade do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMA), que atende adultos e crianças com deficiências de todo o tipo, bem como autistas e portadores de transtornos mentais diversos (Demência, Alzheimer), veteranos de guerra, etc. O programa recebe grupos ou visitantes individuais, com atendimento diferenciado, empregando recursos como audiodescrição e experiências táteis. Também oferece atividades artísticas para pacientes internos em hospitais. Os programas são extensivos aos familiares e eventualmente contemplam exposições dos trabalhos criados pelos participantes. Uma curiosidade é que os aparelhos de audiodescrição são frequentemente requisitados por pessoas sem deficiência, que simplesmente desejam informação com maior detalhamento. Da mesma forma, pessoas sem deficiência, ao saberem que as PCDs tem permissão para tocar em esculturas (sob condições estritas), manifestam o desejo de ter esse mesmo "direito".

Ainda no mesmo tema, a próxima palestrante foi Amanda Tojal, da empresa www.arteinclusao.com.br. Ela fez um breve apanhado sobre a evolução da acessibilidade no Brasil, que ganha impulso somente a partir dos anos 90, após a nova Constituição. Considerado o acesso à cultura como um direito, justifica-se desde então o esforço das instituições para estender este acesso a todo e qualquer cidadão. Contudo, embora muitos gestores ponderem que o elevado custo e esforço necessários para assegurar a acessibilidade são desproporcionais ao tamanho deste público específico - uma minoria - é fácil observar que, antes de qualquer disposição física dos espaços, a atitude das pessoas é o que faz a diferença. Além disso, é a presença dessa minoria que promove a transformação do espaço, uma vez que o público (qualquer público) é por excelência sujeito, que atribui significado continuamente às obras, interpretando-as em seu contexto, postura ativa que deve ser estimulada (e não reprimida) pelas instituições. E por fim, uma evidência que temos dificuldade de encarar é que qualquer um, de um momento para outro, pode passar a ter necessidades especiais, devido a acidentes, enfermidades ou simplesmente pelo avanço da idade. Nestes casos, é importante ainda notar que tais programas ajudam a combater a depressão e o isolamento que com frequência agrava o estado de saúde das PCDs.
Mas que "minoria" é essa, mesmo? Segundo Amanda, dados do censo do IBGE em 2010 informam que 23,9 % dos brasileiros declaram-se "com algum tipo" de deficiência, cifra que atinge 45 milhões de pessoas. A estimativa da Organização Mundial da Saúde para a percentagem da população mundial é de 10%.
O conceito de acessibilidade, assim, amplia-se para além da questão física, passando a abranger o acesso à informação, a publicidade dos acervos, etc. Relaciona-se também com distintas disciplinas, pois demanda a participação de conservadores, arquivistas, arquitetos, atendentes, mediadores, profissionais de comunicação, entre outros. Daí resulta o conceito atual de acessibilidade, incorporando três dimensões: física (acesso ao prédio), comunicacional (acesso à informação) e atitudinal (postura inclusiva do atendimento, não limitado necessariamente às PCDs).

NOTA – Outra instituição que mantém um programa permanente de acessibilidade, já com uma década de existência e que inclui uma "galeria tátil", é a Pinacoteca do Estado de São Paulo.

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