Fechando o primeiro dia do Encontro Públicos da Cultura, no SESC Vila Mariana, em São Paulo, ouvimos a conferência do norte-americano Alan Brown, intitulada Building demand for the arts.
Ele iniciou com um panorama sobre os termos usados em inglês para descrever o consumo cultural, cuja quantidade e semelhança nos confundem um pouco, entre eles: demand, a demanda ou procura do público; attendance, o público ou audiência que se desloca a determinado local; outreach, ou o alcance, abrangência territorial ou em termos de número de espectadores/consumidores de um produto ou instituição; participation, involvement ou engagement, termos que implicam um envolvimento mais ativo, extrapolando o conceito habitual de público (que é passivo). Contudo, seja qual for o que mais nos agrade, entre os termos citados, é certo que ampliar a difusão das artes e o acesso público são desafios cotidianos para todos, quer sejamos artistas, patrocinadores, gestores, etc.
Em seu livro Getting in on the act: How Arts Groups are Creating Opportunities for Active Participation (escrito com Jennifer Novak-Leonard para a Fundação Irvine), Brown afirma, com base em estudos de caso em um grande número de instituições, que esses conceitos vem sendo redefinidos no passado recente, à medida que o público demonstra preferência por formas de participação (e expressão) mais ativas. Essa tendência traz grandes desafios e oportunidades para o setor artístico, que precisa adaptar-se a novas realidades demográficas e tecnológicas. Em outras palavras: o público já não se conforma facilmente em ser "apenas" público.
O livro propõe um modelo com 5 diferentes "níveis" de participação. A figura ao lado ilustra a progressão contínua entre a situação de simples espectador (cujo papel é mínimo ou nulo, em relação ao conteúdo artístico) até o extremo oposto, em que já não existe o que se poderia chamar de "público", uma vez que todos os presentes estão envolvidos no processo criativo.
Brown ilustrou sua palestra com estratégias utilizadas por instituições norte-americanas em busca de maior engajamento de seus públicos, envolvendo a ocupação de espaços ou uso de formatos não-convencionais de eventos, seja incluindo projeções visuais ou textos em concertos de música erudita ou espetáculos de dança; seja pelo uso intensivo de redes sociais. A Filarmônica de Los Angeles, por exemplo, recomenda através do site os programas de seus próximos concertos com base nas respostas do internauta a determinadas perguntas. Já a New World Symphony de Miami, orquestra com apenas 25 anos de existência, notabiliza-se pelo uso pouco ortodoxo de recursos da música pop, além de permitir uma maior proximidade física com os músicos em seus concertos.
Outra questão importante que merece atenção é como as preferências estéticas são adquiridas ou formadas pelos indivíduos, ou por que preferimos determinados tipos de expressão em vez de outros. São processos que se desenvolvem ao longo de uma vida e envolvem descobertas que podemos fazer autonomamente, mas também por recomendações de professores, amigos, artistas, vendedores, etc. Ou ainda pelos meios de comunicação, de forma mais passiva e com maior participação do acaso. Não sabemos muito sobre como interferir nesses processos, sendo necessárias pesquisas e também novas experiências neste sentido.
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