Seguimos compartilhando os resumos comentados do Encontro Internacional Públicos da Cultura, realizado pelo SESC-SP no mês passado, agora com a palestra do sociólogo Rui Telmo Gomes, pesquisador do Observatório das Actividades Culturais de Portugal (OAC). Criado em 1996, o OAC é uma associação sem fins lucrativos, tendo por associados fundadores o então Ministério (hoje Secretaria) da Cultura, o Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e o Instituto Nacional de Estatística. Ocupa-se da produção e difusão de conhecimentos que possibilitem dar conta, de uma forma sistemática e regular, das transformações no domínio das atividades culturais, com destaque para estudos de públicos, eventos culturais e respectivos impactos, políticas culturais, agentes (artistas, usuários de equipamentos culturais, etc.) e estudos de levantamento de instituições culturais (bibliotecas, museus, etc.). Vale uma visita ao site para conhecer a quantidade e qualidade dos estudos que lá se encontram publicados, com a grande vantagem (para nós brasileiros), de estarem em nosso idioma.
Gomes apresentou alguns dados sobre o consumo cultural hoje em Portugal, os quais indicam um crescimento geral do consumo cultural e nas despesas das famílias com cultura e lazer nas últimas décadas, embora a tendência de retração recente, devido à crise econômica. Certos setores apresentam crescimento maior do que a média, como o uso da internet e TV a cabo e a frequência a eventos culturais externos. Desde meados da década passada, vem ocorrendo redução na prática de ler jornais, bem como na frequência a espetáculos, embora tenha havido aumento na porcentagem de leitores de livros e frequentadores de salas de cinema. Há um aumento da oferta de atividades ou serviços educativos nos museus e centros culturais.
Interessante notar em especial as tendências simultâneas de aumento da frequência de saídas e de atividades domésticas de consumo, ou seja, não há evidências de que a ampliação da oferta que nos chega através de aparelhos eletrônicos domésticos implique no "enclausuramento" das pessoas em suas casas, como poderia se pensar.
Algumas diferenças surgem na comparação entre os contextos português e europeu, que refletem fatores estruturais e também os efeitos da crise financeira, que não são os mesmos nos 27 países da UE. Por exemplo, Portugal destaca-se positivamente na quantidade de leitores, frequência a salas de cinema, galerias, espetáculos e bibliotecas. (Quem quiser conhecer os dados recentes sobre participação cultural na União Europeia pode consultar os resultados da pesquisa Eurobarometer)
Há uma tendência geral à redução do papel do estado na cultura, agravada com a crise econômica, que se concretizou não apenas no rebaixamento do antigo Ministério em Secretaria, mas também na redução de 40% do orçamento, ao longo dos últimos anos. Outra tendência, vinculada ao contexto europeu, é o fortalecimento da perspectiva das Indústrias Culturais e Criativas (ICC), que no caso do Observatório leva a restrições nas pesquisas, priorizando-se aquelas que reflitam processos econômicos.
(Esta tendência foi confirmada por outro pesquisador do OAC, José Luiz Garcia, presente no Colóquio Internacional de Observatórios de Cultura realizado pela Unilasalle em Canoas, dias 28 e 29/11, quem afirmou que a Secretaria de Estado da Cultura deixará de aportar recursos, o que na prática tornará o OAC em instituição totalmente acadêmica)
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