Seminário na FEE discutiu a Economia da Cultura

Na última segunda-feira (24), Porto Alegre recebeu dois convidados de peso no campo da Economia da Cultura, os professores da Universidade de Valencia (Espanha) Pau Rausell e Raúl Abeledo. Ambos integram, nessa universidade, a Área de Pesquisa em Economia da Cultura e Turismo - ECONCULT, coordenada pelo professor Rausell. Eles participaram da apresentação do projeto de Mapeamento da Indústria Criativa do RS, coordenado pelo economista Leandro Valiatti junto à Fundação de Economia e Estatística (FEE), com apoio da Agência Gaúcha de Desenvolvimento e Promoção do Investimento (AGDI). Estiveram presentes representantes da Secretaria de Economia Criativa do MinC e das Secretarias da Cultura e da Ciência, Inovação e Desenvolvimento Tecnológico do RS.

Pau Rausell Köster

Em sua conferência de abertura, o prof. Rausell partiu da tese de que existe um "bonismo" da cultura - isto é, um preconceito amplamente disseminado o qual, segundo ele, nos predispõe ao consenso de que a cultura é essencialmente boa e, por isso, não haveria necessidade de buscarmos evidências de sua importância para a sociedade. Tal displicência daria margem, com frequência, a que as decisões em política cultural sejam tecnicamente equivocadas, sem amparo na realidade; e  pouco democráticas, ao sabor do gosto pessoal do gestor ou político de turno.
Além disso, pode ocultar ineficiência e ineficácia nas políticas públicas para este setor, que diferentemente dos demais, não parece ter como principal destinatário o cidadão comum. [Notem, caros(as) leitores(as), que não é outro o motivo principal que nos levou a idealizar um Observatório da Cultura em Porto Alegre, e quão orgulhosos nos sentimos ao ouvir isso de uma autoridade intenacional no assunto.]

Outra consequência dessa atitude, apontada por ele, é a injustiça fiscal, que consiste em que os impostos pagos por toda a sociedade financiam produtos e serviços culturais que são apropriados pelas classes com maior poder aquisitivo e escolaridade, não apenas porque podem pagar, mas também porque foram educadas para consumir esses produtos e serviços. [É o caso dos espetáculos em nosso país que, financiados através de leis de incentivo fiscal, cobram preços elevados.]
Tratando da Economia da Cultura, Rausell esclareceu de maneira didática os três distintos usos do termo: 1) Como ciência social que procura explicar as decisões individuais em termos de custo-benefício, a qual demonstra ser útil quando aplicada aos fenômenos culturais - mesmo que não envolva valores econômicos; 2) Como um segmento do mercado, onde circula uma pequeníssima parcela da produção cultural - aquela que possui valor econômico - conceito eventualmente ampliado pela substituição de "cultural" por "criativo", tal como o terceiro; e 3) Como programa político nascido na Austrália e Reino Unido nos anos 90, sujeito a diversas leituras críticas e disputas ideológicas ainda em pleno curso, que aposta nesse setor ecnômico como estratégia de desenvolvimento econômico para superar a desindustrialização crescente.
[No Brasil, a crescente difusão do segundo desses usos parece ofuscar o imenso potencial - ou a urgente necessidade - do primeiro.]

Para saber mais, seguem os links para publicações dos palestrantes (em espanhol):
Cultura: estrategia para el desarrollo local, coordenado por Rausell para a série "Cultura e desenvolvimento" da AECID (Agencia Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento).
La cultura como factor de innovación económica y social, coordenada por Rausell e Abeledo para o projeto Sostenuto.

PS - Nesta postagem, o link para os relatórios finais do Projeto Sostenuto.

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